Limpeza pública: o que define a saúde, a economia e a imagem de uma cidade


A limpeza pública é um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento de qualquer município. Não é apenas sobre ruas varridas ou praças bem cuidadas. É sobre saúde pública, economia, autoestima urbana e capacidade de atrair novos investimentos. Uma cidade que cuida dos seus resíduos, da coleta orgânica, da coleta seletiva e dos pontos de descarte não é apenas mais bonita. É mais forte.

A responsabilidade pela limpeza pública é compartilhada. Cabe ao poder público organizar, fiscalizar e oferecer estrutura de coleta. Cabe aos cidadãos separar corretamente os materiais, respeitar os dias e horários de coleta e utilizar os pontos de descarte apropriados. Cabe às empresas reduzir resíduos, dar destino correto ao lixo que produzem e colaborar com campanhas educativas. Quando cada parte entende seu papel, a cidade inteira colhe os benefícios.

Os dados mostram o quanto esse tema é sério. Em 2023 o Brasil gerou aproximadamente 81 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, o que representa cerca de 1,047 kg de lixo por pessoa por dia, segundo levantamento do Poder360 com base em dados nacionais de gestão de resíduos. Esse número é maior do que anos anteriores. Em 2021 o volume era menor, mostrando que a geração de lixo no Brasil segue uma tendência de crescimento contínuo.

O que preocupa não é apenas a quantidade, mas o destino. Em 2023 cerca de 41,5% de todos os resíduos do país foram descartados de maneira inadequada, seja em aterros irregulares, áreas sem controle ambiental ou lixões. Esse dado revela que quase metade do lixo brasileiro ainda não recebe tratamento ou destinação ambientalmente segura, segundo dados do Poder360 e de pesquisas sustentadas por fontes nacionais.

A destinação correta melhorou lentamente nos últimos dois anos, mas ainda está longe do ideal. Em 2022 aproximadamente 57% dos resíduos tinham destino ambientalmente adequado, passando para cerca de 58,5% em 2023, conforme levantamento do ABCP. É um avanço, mas extremamente tímido diante do tamanho do desafio. Além disso, dados do IBGE mostram que 31,9%  dos municípios brasileiros ainda utilizam lixões como forma de disposição final, algo que compromete solo, água, ar e saúde pública.

Esses números evidenciam a importância da gestão de resíduos para a saúde. Ambientes com lixo acumulado aceleram a proliferação de vetores como mosquitos, baratas e roedores, aumentando riscos de dengue, leptospirose e uma série de doenças transmitidas por contaminação. Pesquisas internacionais publicadas na ScienceDirect mostram que municípios que melhoram sua gestão de resíduos registram redução de doenças e menor pressão sobre o sistema público de saúde.

A limpeza pública também tem impacto direto na economia e na imagem de uma cidade. Estudos do World Business Council for Sustainable Development apontam que ambientes urbanos limpos e bem geridos são determinantes na atração de empresas, investidores e novos negócios. Nenhuma empresa quer se instalar em locais degradados, desorganizados ou com descarte irregular evidente. A limpeza comunica seriedade, responsabilidade e cuidado, atributos que influenciam a decisão de investidores e empreendedores.

A coleta seletiva é outro ponto crucial. Apenas uma pequena parcela dos municípios brasileiros possui programas robustos de reciclagem. Isso significa que materiais valiosos, como plástico, vidro, metal e papel, continuam sendo desperdiçados todos os anos, gerando perdas econômicas bilionárias. Cidades que investem em coleta seletiva reduzem custos, fortalecem cooperativas de catadores, diminuem a pressão sobre aterros e constroem uma cultura ambiental mais forte.

Pontos de descarte organizados também são fundamentais. Resíduos volumosos, eletrônicos e entulho não podem ser jogados em terrenos baldios, margens de vias ou áreas verdes. Quando o descarte irregular acontece, toda a comunidade perde, pois surgem áreas degradadas, impactos ambientais, sujeira visível e riscos à saúde. Uma cidade com ecopontos bem distribuídos, estruturados e fiscalizados é uma cidade que se organiza para crescer.

Para cidades de pequeno e médio porte, como a nossa, a limpeza pública representa ainda mais. Um município limpo atrai empresas, melhora o turismo local, fortalece o comércio e aumenta a autoestima da população. A limpeza, quando feita com seriedade, torna-se um diferencial competitivo.

Este editorial é um chamado. Ao cidadão, para separar o lixo, respeitar dias de coleta, não descartar irregularmente e valorizar os profissionais de limpeza. Ao comércio, para colaborar e destinar corretamente seus resíduos. Ao poder público, para investir em sistemas eficientes, ampliar coleta seletiva, melhorar a destinação final, fortalecer ecopontos e fiscalizar quem insiste em prejudicar a cidade.

Limpeza pública não é detalhe. É fundamento. É política de saúde, de desenvolvimento econômico e de valorização urbana. Cidades que negligenciam esse tema pagam mais caro amanhã. Cidades que priorizam limpeza prosperam. O futuro urbano passa pela forma como tratamos nossos resíduos hoje.

Se queremos uma cidade saudável, organizada e preparada para crescer, a limpeza pública precisa estar no centro da agenda. É assim que se constrói uma cidade melhor, para todos.

 

Autor da matéria: Edilson Zanetti

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