Influenciador conservador ligado a Trump é morto durante palestra em universidade dos EUA

Charlie Kirk, chefe da Turning Point USA, a principal organização conservadora juvenil do país, foi atingido em evento no estado do Utah; atirador ainda está foragido


O influenciador conservador Charlie Kirk, 31 anos, chefe da Turning Point USA (TPUSA), a principal organização conservadora juvenil dos Estados Unidos, foi baleado e morto em um evento no campus da Universidade Utah Valley nesta quarta-feira. Segundo a universidade, o atirador ainda não foi capturado, contrariando informações iniciais divulgadas por autoridades federais. 

Segundo uma porta-voz da universidade, Kirk foi atingido cerca de 20 minutos depois de começar a falar com os alunos e membros da comunidade no campus. Ela disse que um suspeito que atirou em Kirk a partir do Losee Center, um prédio a cerca de 200 metros de distância. Inicialmente foi divulgada a informação de que o atirador havia sido capturado, mas posteriormente a instituição disse que ele segue foragido.

"Em 10 de setembro de 2025, às 12h20 (horário local), um único tiro foi disparado no pátio próximo à praça de alimentação do Campus Orem da Universidade Utah Valley, enquanto o sr. Charlie Kirk começava a discursar em seu comício. Podemos confirmar que o Sr. Kirk foi baleado, mas não sabemos seu estado de saúde. O suspeito não está preso. A polícia ainda está investigando. O campus está fechado pelo resto do dia", diz o comunicado.

Em entrevista à rede CNN, um dos participantes do evento disse que, pouco antes do ataque, “um garoto se aproximou e perguntou quantos atiradores transgêneros havia, e Charlie fez outro comentário" — nos últimos dias, a imprensa americana tem ventilado planos do Departamento de Justiça para restringir o acesso de pessoas transgênero a armas de fogo, reforçando a agenda de gênero defendida pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

— E então ele fez mais uma pergunta, e a pergunta era sobre atiradores. E antes que Charlie Kirk pudesse pegar o microfone novamente, foi quando o tiro aconteceu — relatou a testemunha.

Horas depois do ataque, e em meio a relatos de que ele estava internado em estado crítico, Trump confirmou em sua rede social, a Truth Social, que Kirk havia morrido, informação confirmada também pelo porta-voz do influenciador, Andrew Kolvet.

“O Grande, e até mesmo lendário, Charlie Kirk está morto”, escreveu Trump em sua rede social. “Ninguém compreendia ou tinha o Coração da Juventude dos Estados Unidos da América melhor do que Charlie. Ele era amado e admirado por TODOS, especialmente por mim, e agora não está mais entre nós. Melania e meus pêsames vão para sua linda esposa Erika e sua família. Charlie, nós te amamos!”

Após o disparo, testemunhas afirmam ter visto uma grande quantidade de sangue — pelo menos três vídeos postados nas redes sociais mostram o conservador sendo atingido por tiros.

— Este é um incidente terrível — disse Hasan Piker, um podcaster progressista que receberia Kirk em seu programa no final do mês, durante uma transmissão no Twitch. — A repercussão das pessoas em busca de vingança após este incidente violento e abominável será genuinamente preocupante.

Não foram dados detalhes sobre o suposto atirador, mas equipes do FBI, a polícia federal americana, e da ATF, a agência responsável pelo controle de armas de fogo, estão no local. Na rede social X, Spencer Cox, governador de Utah, disse que estava recebendo informações sobre o caso, e garantiu que as pessoas ligadas à ação "serão totalmente responsabilizadas". Todd Blanche, número dois no Departamento de Justiça, disse que está rezando por “meu amigo Charlie Kirk”, acrescentando que as autoridades federais “estão investigando ativamente esse ato de violência sem sentido”.

 

Reações no meio político

 

Instantes após o ataque, o 46º envolvendo armas de fogo em instituições de ensino nos EUA desde o início do ano, o meio político se uniu em mensagens de apoio a Kirk e de condenação do incidente. Em suas redes sociais, Donald Trump afirmou, antes da confirmação da morte, que "devemos todos rezar por Charlie Kirk, que foi baleado”, escreveu ele no Truth Social. “Um cara incrível, do começo ao fim. QUE DEUS O ABENÇOE!”.

— Ele não está bem... sim, parece muito mal — disse Trump ao jornal New York Post. — Ele era um amigo muito, muito bom meu e uma pessoa incrível.

O vice de Trump, JD Vance, pediu em suas redes sociais que os americanos "façam uma oração por Charlie Kirk, uma pessoa genuinamente boa e um jovem pai", e publicou uma foto ao lado do influenciador, com quem dialoga de maneira frequente, e com um dos filhos de Trump, Donald Trump Jr.

No Congresso, lideranças dos dois partidos condenaram o ataque. Em comunicado, o líder da maioria republicana no Senado, John Tune, afirmou que "não há lugar para violência política" nos EUA, enquanto o presidente da Câmara, Mike Johnson, pediu orações pelo influenciador.

— A violência política se tornou muito comum na sociedade americana, e isso não é quem somos. disse Johnson, antes de pedir um minuto de silêncio na Casa. — Precisamos de todas as figuras políticas, precisamos de todos que têm uma plataforma para dizer isso em alto e bom som. Podemos resolver desentendimentos e disputas de forma civilizada, e a violência política precisa ser denunciada, e precisa acabar.

O líder da minoria democrata na Câmara, Hakeem Jeffries, declarou que "violência política NUNCA é aceitável".

Gavin Newsom, governador da Califórnia, desafeto de Trump e apontado como um dos prováveis candidatos democratas à Casa Branca em 2028, disse na rede social X que "o ataque a Charlie Kirk é repugnante, vil e repreensível. Nos Estados Unidos da América, devemos rejeitar a violência política em TODAS as suas formas".

Gabrielle Giffords, ex-congressista do Arizona que quase morreu em uma tentativa de assassinato em 2011, disse estar “horrorizada” ao saber que Kirk havia sido baleado.

“As sociedades democráticas sempre terão divergências políticas, mas nunca devemos permitir que os Estados Unidos se tornem um país que enfrenta essas divergências com violência”, disse ela nas redes sociais.

 

Quem é Charlie Kirk?

 

Nascido em 1993 em um bairro rico de Chicago, o americano começou a ficar conhecido em 2012, quando publicou um artigo no Breitbart News, site conservador que chegou a ter como diretor outra figura proeminente da extrema direita, Steve Bannon, ex-assessor de Trump. O texto argumentava que os livros didáticos usados em escolas do ensino médio estavam "doutrinando" os jovens com ideias progressistas.

A controvérsia o levou a programas de televisão e lhe deu a plataforma para lançar a TPUSA. Ele ganhou ainda mais notoriedade durante a primeira campanha de Trump à Presidência, em 2016, quando simbolizou uma crescente e barulhenta parcela dos eleitores, os jovens conservadores e ligados a teorias da conspiração.

Nos anos seguintes, se integrou ao ecossistema trumpista, se aproximando do núcleo leal do presidente, esposando discursos sobre a elite política de Washington — o tal "pântano" que Trump prometia dragar —, e, após a derrota do republicano em 2020 para Joe Biden, se tornou porta-voz das alegações (falsas) de fraude eleitoral. Muitos o associam intelectualmente ao ataque contra o Capitólio, no dia 6 de janeiro de 2021, dia em que a vitória de Biden foi confirmada. Durante a pandemia da Covid-19, seu grupo bancou propagandas nas redes sociais com informações falsas sobre a vacinação, de acordo com o britânico The Guardian.

Kirk comanda outra organização além da Turning Point USA, a Turning Point Action, que funciona como um braço político de suas iniciativas. Em entrevistas, discursos e falas em programas de rádio e TV, o americano defendeu teorias da conspiração como marxismo cultural, globalismo e o negacionismo quanto as mudanças climáticas. Em 2020, fez o discurso inaugural da convenção nacional do partido Republicano.

Autor da matéria: Caroline Zanetti
Fonte: O Globo

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