Editorial | Medicina e Tecnologia: A Saúde na Encruzilhada da Inovação


Vivemos uma das maiores revoluções da história da medicina. Em pleno século XXI, a incorporação de tecnologias como inteligência artificial, genômica, análise de dados e plataformas digitais está redesenhando o modo como entendemos, diagnosticamos e tratamos doenças. Mas, como toda transformação profunda, ela vem acompanhada de oportunidades e desafios — especialmente em um país como o Brasil, onde o abismo entre inovação e acesso ainda é evidente.

De um lado, testemunhamos avanços extraordinários. A inteligência artificial, por exemplo, já atua como aliada de profissionais da saúde, auxiliando no diagnóstico de imagens médicas com precisão surpreendente. Em centros mais avançados, algoritmos identificam anomalias com velocidade e eficiência superiores às dos olhos humanos — e isso não é mais ficção científica. É realidade.

No cenário nacional, iniciativas como o “Meu SUS Digital” representam um passo corajoso rumo à digitalização da saúde pública. Trata-se de uma plataforma que visa integrar o histórico clínico do cidadão e oferecer acesso facilitado a dados de vacinação, exames, agendamentos e muito mais. Não se trata apenas de conveniência: é estratégia. A tecnologia, quando bem aplicada, permite ao SUS ganhar fôlego, precisão e previsibilidade. Em tempos de escassez orçamentária, isso pode representar a diferença entre eficiência e colapso.

Outra ação ambiciosa e emblemática é o Programa Genomas Brasil — uma iniciativa que pretende sequenciar 100 mil genomas até 2026 para abrir caminho à medicina de precisão no sistema público. A proposta é ousada: compreender o DNA dos brasileiros para oferecer tratamentos personalizados e mais eficazes. Países como o Reino Unido, China e EUA já trilharam esse caminho com resultados promissores. Ao seguir essa trilha, o Brasil se posiciona como protagonista no desenvolvimento de uma saúde mais preditiva e científica.

Mas há um contraponto que não pode ser ignorado. Para que essas inovações cheguem a todos os brasileiros, será preciso muito mais do que boas ideias: será necessário investimento em infraestrutura, capacitação técnica, segurança de dados e políticas públicas sólidas. A digitalização da saúde não pode aprofundar desigualdades. Ao contrário, precisa ser construída com inclusão, ética e responsabilidade.

Além disso, os desafios não são apenas técnicos. O setor da saúde, tradicionalmente estruturado sobre modelos presenciais e hierarquizados, precisa adaptar-se a uma nova lógica: colaborativa, orientada por dados e centrada no paciente. E isso exige mudanças culturais — tanto por parte dos profissionais quanto das instituições públicas e privadas.

Num mundo em que a tecnologia avança em ritmo exponencial, a medicina precisa acompanhar — mas sem perder sua essência humana. Afinal, algoritmos podem processar dados. Mas ainda são os profissionais de saúde que escutam, acolhem e curam.

O futuro da saúde já começou. A questão é: vamos apenas observá-lo passar, ou vamos construí-lo com coragem, visão e equidade?

 

Autor da matéria: Edilson Zanetti

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