- Evidenciador ,
- 08 jul 2025
A nova piloto da Ferrari Aurelia Nobels, belga naturalizada brasileira e com apenas 16 anos, pode ser a próxima a quebrar a hegemonia masculina nas pistas e pavimentar o caminho para outras mulheres e meninas no esporte – e está trabalhando para isso. “Não me incomoda ser a única mulher do grid, até porque sei que posso abrir as portas para outras meninas.”
Aurelia chegou à Itália na última sexta-feira (13) para competir de Fórmula 4 na Europa, e já se sente mais próxima de alcançar o sonho de ser piloto de Fórmula 1. “Quero chegar à Fórmula 1 e vou me dedicar ao máximo. Agora que eu entrei na Ferrari, acho que vai ser mais fácil com o apoio deles.”
Aurelia foi a única mulher a competir na Fórmula 4 no Brasil, e venceu o programa Girls on Track – Rising Stars, da FIA (Federação Internacional do Automobilismo) em parceria com a Ferrari, com outras 80 meninas, sendo a terceira piloto a garantir uma vaga na academia da montadora italiana.
A jovem piloto entrou no mundo do automobilismo por influência de seu pai, amante do esporte e fã de Ayrton Senna. Apesar de transitar em um universo ainda muito masculino – a F1 não tem uma mulher de forma oficial há quase 50 anos, desde 1976, com Lella Lombardi –, Aurelia tem referências femininas. “Conheci a Bia Figueiredo no começo da minha carreira quando estava no kart, e ela ficou muito feliz quando viu que eu entrei na Fórmula 4, veio nas corridas, me deu dicas.”
Filha de pais belgas, Aurelia nasceu nos Estados Unidos, mas vive no Brasil desde os três anos. No seu capacete, a bandeira do Brasil fica ao centro, e a da Bélgica e dos Estados Unidos aos lados.
Sua carreira começou aos 10 anos, no kart, e competiu no Brasil e na Europa. Já nessa época, era jogada para fora da pista pelos outros pilotos e intimidada pelos pais deles por ser a única mulher no grid. “Eu nunca pensei em desistir, mas era chato porque eu sempre estava numa boa posição e eles faziam alguma coisa para atrapalhar”, diz. “Quando você abaixa a viseira, não tem diferença se é menino ou menina.”
Em 2021, começou a fazer testes de F4, o que foi um grande salto e a virada de chave para ganhar confiança e entender que queria fazer das pistas sua carreira. “O kart é diversão e a fórmula é muito mais difícil, exige mais do seu físico e é coisa séria, você está lá para trabalhar.”
No ano passado, Aurelia foi a única mulher de 15 pilotos a competir na Fórmula 4 Brasil. “Fiquei triste por ser a única, mas muito feliz em poder representar as mulheres, então tento fazer o meu melhor.”
E venceu o programa da FIA na Itália com outras 80 meninas. “Quando você está só com meninos e vai para uma programa só de meninas o ambiente é completamente diferente”, diz ela, que fez amizade com as outras pilotos. “Na final, pude aprender com os melhores, que são o pessoal da Ferrari mesmo.”
Aurelia quer continuar fazendo carreira no automobilismo e chegar à Fórmula 1, mas vai terminar de estudar em uma escola online para atletas e tem interesse até em cursar uma faculdade. “Esse ano vou fazer Fórmula 4, e se der tudo certo eu vou para Fórmula 3 em 2024, e aí Fórmula 2 e Fórmula 1.”
A piloto, fluente em quatro idiomas – inglês português francês e espanhol –, entende bem o italiano, mas ainda não fala a língua. Na Itália, vai morar sozinha pela primeira vez, em um apartamento cedido pela Ferrari, e treinar com outros pilotos na academia e na pista. “É um dos melhores campeonatos de Fórmula 4 e com os melhores pilotos, vai ser muito legal.”
E desafiador. “Vai ser minha primeira vez em algumas pistas, e eu sei que a maioria já andou, então vai ser difícil, mas eu estou bem confiante.”
A preparação para as corridas envolve treinamentos físicos e mentais. “Eu tento treinar todos os dias na academia, e quando vou para uma pista nova, faço simulador para ter pontos de referência.”
Antes de entrar na pista, ela prefere ficar sozinha para se concentrar e assistir a um vídeo de um piloto, ou ela mesma, correndo. “Os meus coachs, como o Danilo Dirani, também me ajudavam a lidar com a pressão, com técnicas de respiração até mesmo dentro do carro, esperando dar a largada.”